você não precisa se identificar

Olá Dr. Cerqueira, tudo bem? Sou seu colega que faz medicina, o qual sempre te escrever para ler seus excelentes conselhos. Agora estou no terceiro período da faculdade. Embora a formação seja muito exigente, não posso negar: a medicina é fascinante! Estou amando o ensino. Além disso, ainda não tenho certeza qual especialidade seguirei, mas estou muito inclinado para cardiovascular. De fato, sei que ainda é cedo para escolher definitivamente uma área, então me esforço para conhecer o máximo de áreas possíveis, uma vez que todos os campos da medicina solidificarão meu conhecimento médico.
Dr, ainda que eu esteja empolgado pela formação, noto que uma coisa tem me incomodado: a necessidade de fazer inúmeras coisas na faculdade para concorrer as vagas na residência. Por exemplo, as residências exigem que o aluno participe de centros acadêmicos, de congresso; publique artigos, faça monitoria, etc. Nesse sentido, vejo meus colegas participando de mil atividades, fazendo inúmeras coisas ao mesmo tempo, mas não consigo perceber quão válidas são tais atividades, o quanto tais ações contribuem de verdade para a formação médica. Então, inserido nesse ambiente, me sinto pressionado para entrar nas várias atividades que a universidade proporciona. Não nego a importância dos centros acadêmicos, da publicação de artigos, etc, mas não consigo entender porque serei julgado na residência pelo meu currículo Lattes desenvolvido no meio academicista. Não seria mais plausível eu ser julgado pela minha atuação prática, pelo meu conhecimento em prol de minimizar a dor do paciente, pela minha atuação humanizada, pela minha empatia, pelo meu pensamento crítico, pela minha capacidade de liderança, pela minha atitude criativa, pelo aprendizado com outros médicos, entre outras competências e habilidades? Não sei se estou errado em preferir a prática invés de teoria, a enfermaria no lugar de sala de aula, trabalhos voluntários em vez de congressos. Há congressos fascinantes, artigos incríveis, aulas maravilhosas, mas, na maioria das vezes, parece que muitos congressos, artigos, aulas, apenas substituem outras atividades que seriam muito mais importantes para a minha formação, para o cuidado do paciente. Por gentileza Dr, você pode me ajudar? Perdoe-me se minha visão esteja errada, apenas quero me melhorar e usufruir ao máximo o rico campo que a universidade me proporciona em prol dos meus futuros pacientes. Obrigado desde já.
Caro amigo, tentarei ser breve no meu conselho: fui professor em faculdade federal de medicina durante 15 anos, até enjoar daquele convívio cheio de fofocas e inutilidade. Depois disso, criei e supervisionei residências médicas em radiologia, cirurgia geral e pediatria, participando ativamente dos processos de seleção dos residentes. Tenha a mais absoluta certeza do que lhe digo: nada supera o aprendizado prático da medicina. Se você mergulhar no aprendizado prático sem esquecer de ler muito, na busca dos necessários fundamentos teóricos para a compreensão dos eventos, você se tornará um médico de grande sucesso e experimentará infindáveis alegrias. Quantos aos colegas abobalhados, que passam o tempo a frequentar congressos, publicar artigos, participar de “juntas”, organizar jornadas, apresentar temas livres em congressos, etc, devote-lhes o mais completo desprezo, pois não passam de ovelhas embriagadas seguindo rebanhos. Siga o caminho que o bom senso e sua intuição indicarem e no futuro você colherá bons frutos.

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