Prezada Sra. Krisneyd Moura, são 5h:16 da madrugada deste sábado, dia 15 de março. Dormi mal essa noite, e fui despertado cedo pela lembrança da leitura que fiz ontem, ao final do dia, da sua mensagem postada no Facebook. Levantei-me e dei-me a ler novamente seu texto, em voz baixa, em voz alta, em voz baixa e em voz alta, reconstruindo mentalmente, a partir do que diz a mensagem, cada momento da sua experiência vivida, e do cenário de trabalho das nossas equipes, no Hospital Prontomed.

Em seguida, voltei a ler sua mensagem, Sra. Krisneyd. Depois, mirando minha janela, por onde entram os primeiros raios de luz, comecei a imaginar: como será que, cidadã desse país, ela suporta esse trânsito urbano caótico, essa inflação que corroi seu salário, essa violência crescente solta pelas ruas, esse saneamento básico deficiente que dissemina tantas epidemias, essas débeis operadoras de telefonia, esses elevados juros de cartões de crédito, essa falta de espaços públicos de lazer, essa sensação coletiva de abandono, e tantas outras mazelas brasileiras, e não se revolta, não ameaça ninguém?
Sra. Krisneyd, deixe-me explicar-lhe porque o Hospital Prontomed Infantil estava lotado:
1. Ele estava lotado porque é o único hospital de crianças em Teresina! Os hospitais da cidade deixaram, há anos, de atender urgências em pediatria: São Paulo, Santa Maria, São Marcos, Casamater, São Pedro, HTI, etc - nenhum deles atende urgências infantis.
2. Porque são poucos os profissionais competentes (pediatras, enfermeiras, técnicas de enfermagem, atendentes, bioquímicos, radiologistas, ortopedistas) que, ao invés de estarem a dormir, no conforto dos seus lares, aceitam passar noites e finais de semanas enfrentando o desafio de salvar crianças acometidas por meningites, ferimentos graves, pneumonias, diarreias severas, desidratações complicadas, viroses respiratórias e muitas outras condições que se assumem um caráter epidêmico quando começa a temporada da chuvas.
3. Porque muitos pais, ao invés de levar seus filhos a consultórios pediátricos, mesmo estando eles doentes há dias, preferem superlotar o único pronto socorro infantil da cidade nos horários em que chegam do trabalho e percebem que as crianças pioraram. Afinal, o Medplan e a Humana ofertam às crianças mais de 40 consultórios pediátricos credenciados!
4. Porque as autoridades municipais, embora lutemos há anos, não nos concedem autorização para ampliar os espaços do hospital em direção ao prédio vizinho.
5. Porque o risco de ações judiciais por erro médico, por demora em atendimentos, por negligência, por danos materiais, por danos morais e por inúmeras outras alegativas jurídicas afugentam os profissionais médicos, que temem ver suas carreiras, suas reputações e suas economias devastadas por uma dentre tantas ameaças que pairam sobre esse arriscado ofício.
6. Porque o empreendimento chamado "pronto-socorro de pediatria" é uma atividade altamente deficitária. Isso explica porque todos os hospitais infantis de Teresina faliram! Somos o único sobrevivente nessa atividade, e nosso prejuízo operacional, bancado pelo Medplan e pela Humana, atinge a assustadora cifra de 50 mil reais/mês.
7. Porque nenhum outro plano de saúde possui um hospital infantil. Resultado: somos obrigados a atender as crianças de todos os outros planos!
8. Porque enquanto as pessoas suportam passar horas em festas, casamentos, salões de beleza, corsos, shoppings, shows musicais, embarques de aeroportos e outras fúteis experiências, sao intolerantes quando se trata de nos ajudar, com paciência e colaboração ativa, a salvar seus filhos.
9. Porque as mães não se dão conta de que, apesar das dificuldades de espaço, o Prontomed Infantil é um centro de excelência e de resolutividade: realizamos uma média mensal de 3800 consultas, 18000 exames e 95 internações, sem que, nos últimos 8 meses, uma só criança tenha perdido a vida. Uma prova dessa eficiência: casos de urgência infantil nos chegam diariamente, vindas de outras cidades do Piauí e do Maranhão.
10. Porque as mães não se dão conta de que resultados de exames não são produzidos com a rapidez de um sanduíche fast-food. Para evitar erros de graves consequências, nossos resultados de exames laboratoriais passam por contra-provas, e mesmo assim conseguimos liberá-los com intervalos máximos de 3 horas. Isso não significa que a criança ficará esperando esse tempo para que seu tratamento se inicie. Enquanto o exame é processado, a criança já está medicada e sob observação médica, para avaliação evolutiva. Quando os resultados dos exames chegam aos médicos, eles, baseados nos que recebem, decidem se modificam ou se mantêm a medicação usada.

Enfim, Sra. Krisneyd, temos a consciência de que precisamos manter vivo, e em expansão, o Prontomed Infantil. Mas só atingiremos tal objetivo se os pais de nossos clientes se aperceberem de que, ao invés de nossos adversários, precisam ser nossos aliados. Precisam oferecer às nossas equipes de atendimentos todo o apoio, a compreensão e a amizade que se deve devotar àqueles que cuidam da vida e da saúde dos seus filhos, nos momentos em que eles mais precisam de ajuda.
Permita-me, pois, a ousadia de um conselho: nos momentos de stress, não torne pior o que já está ruim. Pergunte-se: "o que posso fazer de bom por eles, para que eles façam o que há de melhor por mim"? Só assim, uma luz forte e bonita, como a que agora entra pela minha janela, poderá nos iluminar na direção da construção de um relacionamento harmonioso e construtivo.
Atenciosamente,
José Cerqueira Dantas.
Sócio Gerente do PRONTOMED.