você não precisa se identificar
Dr., o que priorizar no primeiro período de medicina? Como me tornar uma boa médica ?
Há vinte e cinco anos, o acesso à graduação universitária no curso de medicina era, no Brasil, uma façanha laboriosa, pois havia poucas faculdades de medicina no país. Contudo, a realidade mudou drasticamente. Por meio de práticas corruptas e manipulações políticas, tornou-se relativamente fácil para empresários oportunistas obterem autorização do Ministério da Educação para abrir novas faculdades de medicina. O resultado? O Brasil agora figura no preocupante grupo de países com algumas das piores faculdades de medicina do mundo. Além disso, é o país que mais distribui diplomas médicos: são 42 mil novos médicos formados por ano.
Outro dado alarmante: diferentemente de outras profissões (como direito ou contabilidade), no Brasil o médico recém-formado não precisa passar por um exame de validação de diploma nem por um curso de especialização. No dia seguinte à formatura, já está habilitado a exercer qualquer especialidade médica, mesmo sem treinamento adequado. Isso significa que, de maneira impune, pode atender em pronto-socorros, realizar cirurgias, implantar próteses de silicone e até mesmo abrir crânios, sem a devida qualificação. Estudos apontam que, em emergências médicas, pode ser mais seguro permanecer em casa do que buscar atendimento em pronto-socorros, sobretudo durante a noite ou nos finais de semana. Essa realidade evidencia uma crise gigantesca.
Por isso, antes de ingressar no exercício profissional, você precisa decidir a qual grupo de médicos deseja pertencer: ao grupo dos incompetentes, inescrupulosos ou ao grupo dos médicos competentes, confiáveis?
Os médicos do primeiro grupo são facilmente identificáveis: estão constantemente em evidência, promovendo-se nas redes sociais, ministrando palestras genéricas e ocupando posições de destaque como “professores” em instituições de baixa qualidade. Apesar de toda a visibilidade, suas condutas médicas são repletas de erros e de terríveis consequências, suas escritas carecem de coerência e profundidade, e suas ações frequentemente revelam arrogância, desrespeito a colegas e pacientes, além de intolerância para com enfermeiras e auxiliares. Em suma, são profissionais despreparados que priorizam o ego e o lucro acima da decência e da competência.
Já o segundo grupo, é o dos médicos verdadeiramente competentes, que promovem o alívio e a cura dos seus pacientes e que orgulham a profissão. Esses profissionais honram a medicina como uma vocação, trilhando um caminho mais árduo, porém mais gratificante. Ao final de suas carreiras, poderão olhar para trás e dizer: “Que vida maravilhosa vivi.”
Aqui vão as características comuns aos bons médicos. Espero que elas lhe sirvam como fonte de inspiração:
CARACTERÍSTICAS DOS BONS MÉDICOS:
1. São cultos.
Os médicos de excelência constroem sua base de conhecimento lendo e refletindo. Abaixo, uma lista de obras fundamentais para sua formação, cuja leitura deverá ocupar boa parte do seu tempo livre:
1. Dom Quixote de la Mancha – Cervantes
2. Cândido, ou o Otimista – Voltaire
3. História da Família, da Propriedade Privada e do Estado – Engels
4. Dom Casmurro – Machado de Assis
5. A Mãe – Gorki
6. Os Irmãos Karamázov – Dostoiévski
7. O Contrato Social – Rousseau
8. História da Revolução Russa – Trotski
9. O Alienista – Machado de Assis
10. Cem Anos de Solidão – Gabriel García Márquez
11. Os Sertões – Euclides da Cunha
12. História Social da Arte e da Literatura – Arnold Hauser
13. A Imperatriz de Ferro – Jung Chang
14. Medicamentos Mortais e Crime Organizado – Peter Gotzsche
15. Dom Pedro I – Isabel Lustosa
16. O Gene – Siddhartha Mukherjee
17. 1493 – Charles Mann
18. Pedro, o Grande – Robert Massie
19. Os Judeus, o Dinheiro e o Mundo – Jacques Attali
20. O Macho Demoníaco – Richard Wrangham
21. 1924: O Ano que Criou Hitler – Peter Ross Range
22. A Splendid Exchange – William Bernstein
23. A Era da Incerteza – Eric Hobsbawm
24. A Era das Revoluções – Eric Hobsbawm
25. História da Vida Privada – Philippe Ariès
26. Viva o Povo Brasileiro – João Ubaldo Ribeiro
Obs: As obras Dom Quixote, Os Irmãos Karamázov, Dom Casmurro e A Era das Revoluções são indispensáveis.
2. São humildes.
Bons médicos reconhecem as limitações do conhecimento atual e buscam opiniões de outros colegas em casos desafiadores. Não são movidos pela ganância ou prestígio, mas pela vocação de servir ao próximo. Honram horários e compromissos e respeitam todas as pessoas envolvidas no cuidado com o paciente.
3. São focados.
Eles dedicam suas vidas exclusivamente à medicina, sem dispersar suas energias em atividades como política, especulações financeiras ou negócios paralelos. Atualizam-se constantemente, acompanhando o avanço rápido das publicações científicas e participando de congressos.
4. São apaixonados.
Sentem-se realizados ao aliviar o sofrimento humano, vibram com cada diagnóstico bem-sucedido e se emocionam com a gratidão sincera de seus pacientes. Para eles, cada vitória é um reflexo da essência de sua escolha profissional. Nesses momentos um bom médico, na seu sereno e silencioso ofício, é um deus, aquele que muda destinos, transformando sentenças de morte em milagres de vida.
Bem-vinda, cara futura colega, ao mundo da medicina, onde há deuses e há demônios. Decida-se, o mais rápido possível, a qual time você irá pertencer.
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